Desde que o mundo é mundo, o medo
é um instrumento de aprendizado e evolução, pois todos nós, numa ou noutra
circunstância, sentimos medo e somos forçados a crescer e se desenvolver. As
crianças e os adultos, por exemplo, sentem medo do desconhecido.
O que difere um medo real de um
sentimento de aflição é a nossa capacidade de enfrentar aquilo que tememos. E é
esperado que quando nos tornemos adultos tenhamos já vencido uma série de medos
que eram naturais para uma criança; porém, nem sempre é isso que acontece, já
que muitas vezes à medida que nos libertamos de um medo, surgem outros, pois a
vida é mesmo cheia de desafios.
Alguns têm medo de coisas
palpáveis, medos reconhecidos. Outros têm medo de coisas mais sutis e, para
esses, é fundamental trilhar um caminho de autoconhecimento porque iluminando
nossos quartos escuros, com certeza, vamos nos libertar e ter mais força para
caminhar. Lembrando que o medo inibe nossa energia, ficamos fracos e até
confusos quando o medo ocupa a nossa mente.

O medo de não ser amado,
associado ao sentimento da rejeição, é um dos maiores empecilhos para a pessoa
se realizar no amor. Muitas vezes aquele que sente medo de uma rejeição evita
enfrentar o problema, sofre com a carência mas não tem coragem de se lançar
numa nova história. Em geral, por uma
experiência dolorida e traumática, as pessoas deixam de se abrir para
possibilidades diferentes, sem pensar que se protegendo e não enfrentando seus
medos poderá sofrer ainda mais. Não devemos esquecer que somos nós que damos
força ao medo. Somos nós que criamos em cima de fatos ocorridos, verdadeiros
dramas que não precisariam se concretizar.
Pode parecer óbvio, mas nem
sempre nos libertamos de medos infantis. Eles mudam de cor, formato e
profundidade, mas continuamos carregando boa parte deles. Se, por exemplo, uma
criança veio de uma criação rígida, provavelmente ela se cobrará muito e terá
medo de errar. Se ela vier de um ambiente de desamor, brigas e discussões,
certamente terá medo de se posicionar em seus relacionamentos. Se sentir medo
do escuro, do desconhecido, acreditando em coisas negativas, monstros ou
fantasmas, naturalmente essas assombrações continuarão assustando suas noites
causando a cada dia mais sofrimento.
Infelizmente, para curar tudo
isso, não basta apenas exigirmos de nós, adultos, um entendimento racional dos
fatos da vida. É preciso também se amar mais, perdoar àqueles que nos criaram e
entender que a vida pode trazer coisas boas e novas, independentemente, daquilo
que imaginamos ser o limite. Deus pode agir a nosso favor, em qualquer
situação, mesmo naquelas em que nos acreditamos perdidos e solitários. Aliás,
devemos lembrar que o medo também é um crença, uma sensação e não uma verdade absoluta.
Se você sofre de algum medo,
tente pensar no que poderia acontecer de mais dramático se seus medos se
concretizassem. O que você sentiria? O que iria acontecer na sua vida ou na
vida das pessoas à sua volta?
Faça um exercício de imaginar o
que você poderia fazer para solucionar a situação da concretização do seu medo.
A pior sensação associada ao medo é ficar preso um minuto
antes da manifestação do medo pensando no que vai acontecer... Idealizar como
seria o futuro é mais difícil do que viver qualquer situação, até as mais
complicadas. Porque no futuro não temos nenhuma ação, pois o futuro ainda não
aconteceu. Assim, além do medo temos que enfrentar a impotência. Já, no
presente, sempre teremos algo a fazer, o que definitivamente nos liberta.
O medo é uma percepção distorcida
da realidade e um estado de falta de fé. Claro que não podemos nos impedir de
sentir medo, mas podemos encarar nossas sombras. Tive medo de sorrir para
aquela moça e de alguma forma ofendê-la com a minha atitude. Sei também que
muita gente tem medo de doença, de hospital, talvez mais do que o medo da
morte. Porque ver alguém doente exige de nós uma intimidade com a dor do outro
que nem sempre estamos prontos a enfrentar. A doença exige que quebremos
preconceitos, inseguranças, bloqueios e que, de alguma forma, estendamos as
mãos para ofertar algo bom que vem do nosso coração. E, devido às
circunstâncias, isso não é fácil para muita gente.
Sei que o homem não pode existir
sem medo, porque o medo ajuda a colocar limites e nos ensina a lidar com a realidade,
respeitando o que está à nossa volta, mas, quando o vencemos, descobrimos o
quanto podemos ser fortes, amorosos e livres.
Texto revisado por Maria Silvia
Orlovas
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