Espelhamento do nosso ego nos outros -Eckhart Tolle..
“É provável que a maioria das pessoas (da Antiga Grécia) lesse essa frase sem compreender que ela indicava uma verdade mais profunda do que qualquer coisa que o Oráculo pudesse dizer“, diz o autor Eckhart Tolle sobre “gnothi seauton“, ou “conhece a ti mesmo“, frase que está no Templo de Apolo em Delfos e na abertura do capítulo “Quem Pensamos Que Somos“, do livro “O Despertar de Uma Nova Consciência”. A reflexão de Eckhart não é nova, pelo contrário, provavelmente é mais antiga até que o Oráculo de Delfos, mas traz elementos novos interessantes à leitura que fazemos em nossa era, de maneira talvez mais didática e minuciosa. Suave mas direto, Eckhart faz perguntas frontais às ilusões que mantemos de nós mesmos, da paz que tanto queremos “até o telefone tocar” trazendo problemas, ou da diferença entre o que “dizemos e acreditamos” para aquilo que realmente fazemos. “O que nos interessa não é o que dizemos nem aquilo em que acreditamos, mas o que nossas ações e reações revelam como importante e sério“, diz ele, propondo um critério para irmos mais fundo.
Uma das reflexões breves mais interessantes traz de
novo o conceito da “sombra“. Numa das frases mais sólidas desse trecho, Eckhart
fala do espelhamento do nosso ego nos outros: “quanto mais limitada, quanto mais
estreitamente egóica é a visão que temos de nós mesmos, mais nos concentramos
nas limitações egóicas – na inconsciência – dos outros e reagimos a elas”.
É um trecho curto, mas luminoso, que segue abaixo.
Do livro “A New Earth“, em português “O Despertar de Uma Nova Consciência”
(Sextante, 2007).
QUEM PENSAMOS QUE SOMOS [TRECHO] Por Eckhart Tolle
QUEM PENSAMOS QUE SOMOS [TRECHO] Por Eckhart Tolle
Nosso sentido de quem somos determina o que
percebemos como nossas necessidades e o que importa na nossa vida – e o que nos
interessa tem o poder de nos irritar e perturbar. Podemos usar isso como um
critério para descobrir até que ponto nos conheceu. O que nos interessa não é o
que dizemos nem aquilo em que acreditamos, mas o que nossas ações e reações
revelam como importante e sério.
Portanto, talvez queiramos nos fazer a seguinte
pergunta: o que me irrita e perturba? Se coisas pequenas têm a capacidade de
nos atormentar, então quem pensamos que somos é exatamente isto: pequeno. Essa
é nossa crença inconsciente. Quais são as coisas pequenas? No fim das contas, todas
as coisas são pequenas porque todas elas são efêmeras.
Podemos até dizer: “Sei que sou um espírito
imortal” ou “Estou cansado deste mundo louco. Tudo o que quero é paz” – até o
telefone tocar. Más notícias: o mercado de ações caiu, o acordo pode não dar
certo, o carro foi roubado, nossa sogra chegou, cancelaram a viagem, o contrato
foi rompido, nosso parceiro ou parceira foi embora, alguém exige mais dinheiro,
somos responsabilizados por algo. De repente ocorre um ímpeto de raiva, de
ansiedade. Uma aspereza brota na nossa voz: “Não aguento mais isto.” Acusamos e
criticamos, atacamos, defendemos ou nos justificamos, e tudo acontece no piloto
automático. Alguma coisa obviamente é muito mais importante agora do que a paz
interior que um momento atrás disse que era tudo o que desejávamos. E já não
somos mais um espírito imortal. O acordo, o dinheiro, o contrato, a perda ou a
possibilidade da perda são mais relevantes. Para quem? Para o espírito imortal
que dissemos ser? Não, para nosso pequeno eu que busca segurança ou satisfação
em coisas que são transitórias e fica ansioso ou irado porque não consegue o
que deseja. Bem, pelo menos agora sabemos quem de fato pensamos que somos.
Se a paz é de fato aquilo que desejamos, então
devemos escolhê-la. Se ela fosse mais importante para nós do que qualquer outra
coisa e se nós nos reconhecêssemos de verdade como um espírito em vez de um
pequeno eu, permaneceríamos sem reagir e num absoluto estado de alerta quando
confrontados com pessoas ou circunstâncias desafiadoras. Aceitaríamos de
imediato a situação e, assim, nos tornaríamos um com ela em vez de nos
separarmos dela. Depois, da nossa atenção consciente surgiria uma reação. Quem
nós somos (consciência) – e não quem pensou que somos (um pequeno eu) – estaria
reagindo. Isso seria algo poderoso e eficaz e não faria de ninguém nem de uma
situação um inimigo.
O mundo sempre se assegura de impedir que nos
enganemos por muito tempo sobre quem de fato pensamos que somos nos mostrando o
que realmente é importante para nós. A maneira como reagimos a pessoas e
situações, sobretudo quando surge um desafio, é o melhor indício de até que
ponto nos conheceu a fundo.
Quanto mais limitada, quanto mais estreitamente
egóica é a visão que temos de nós mesmos, mais nos concentramos nas limitações
egóicas – na inconsciência – dos outros e reagimos a elas. Os “erros” das
pessoas ou o que percebemos como suas falhas se tornam para nós a identidade
delas. Isso significa que vemos apenas o ego nos outros e, assim, fortalecemos
o ego em nós. Em vez de olharmos “através” do ego deles, olhamos “para” o ego.
E quem está fazendo isso? O ego em nós.
As pessoas muito inconscientes sentem o próprio ego
por meio do seu reflexo nos outros. Quando compreendemos que aquilo a que nos
reagimos outros também está em nós (e algumas vezes apenas em nós), começamos a
nos tornar conscientes do nosso próprio ego. Nesse estágio, podemos também
compreender que estamos fazendo às pessoas o que pensávamos que elas estavam
fazendo a nós. Paramos de nos ver como uma vítima.
Nós não somos o ego. Portanto, quando nos tornamos
conscientes do ego em nós, isso não significa que sabemos quem somos – isso
quer dizer que sabemos quem não somos. Mas é por meio do conhecimento de quem
não somos que o maior obstáculo ao verdadeiro conhecimento de nós mesmos é
removido.
Ninguém pode nos dizer quem é. Seria apenas outro
conceito, portanto não nos faria mudar. Quem nós somos não requer crença. Na
verdade, toda crença é um obstáculo. Isso não exige nem mesmo nossa
compreensão, uma vez que já somos quem somos. No entanto, sem a compreensão,
quem nós somos não brilha neste mundo. Permanece na dimensão não manifestada
que, é claro, é seu verdadeiro lar. Nós somos então como uma pessoa
aparentemente pobre que não sabe que tem uma conta de 100 milhões de reais no
banco. Com isso, nossa riqueza permanece um potencial oculto.”
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Paz profunda !!!
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Paz profunda !!!
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