Entender como aprendemos e o porquê de muitas pessoas
inteligentes e, até, geniais experimentarem dificuldades paralelas em seu
caminho diferencial do aprendizado, é desafio que a Ciência vem deslindando
paulatinamente, em130 anos de pesquisas. E com o avanço tecnológico de nossos
dias, com destaque ao apoio da técnica de ressonância magnética funcional, as
conquistas dos últimos dez anos têm trazido respostas significativas sobre o que
é Dislexia.
A complexidade do entendimento do que é Dislexia, está
diretamente vinculada ao entendimento do ser humano: de quem somos; do que é
Memória e Pensamento- Pensamento e Linguagem; de como aprendemos e do por quê
podemos encontrar facilidades até geniais, mescladas de dificuldades até básicas
em nosso processo individual de aprendizado. O maior problema para assimilarmos
esta realidade está no conceito arcaico de que: "quem é bom, é bom em tudo";
isto é, a pessoa, porque inteligente, tem que saber tudo e ser habilidosa em
tudo o que faz. Posição equivocada que Howard Gardner aprofundou com excepcional
mestria, em suas pesquisas e estudos registrados, especialmente, em sua obra
Inteligências Múltiplas. Insight que ele transformou em pesquisa cientificamente
comprovada, que o alçou à posição de um dos maiores educadores de todos os
tempos.
A evolução progressiva de entendimento do que é Dislexia,
resultante do trabalho cooperativo de mentes brilhantes que têm-se doado em
persistentes estudos, tem marcadores claros do progresso que vem sendo
conquistado. Durante esse longo período de pesquisas que transcende gerações, o
desencontro de opiniões sobre o que é Dislexia redundou em mais de cem nomes
para designar essas específicas dificuldades de aprendizado, e em cerca de 40
definições, sem que nenhuma delas tenha sido universalmente aceita.
Recentemente, porém, no entrelaçamento de descobertas realizadas por diferentes
áreas relacionadas aos campos da Educação e da Saúde, foram surgindo respostas
importantes e conclusivas, como:
-que Dislexia tem base neurológica, e que existe uma incidência
expressiva de fator genético em suas causas, transmitido por um gene de uma
pequena ramificação do cromossomo # 6 que, por ser dominante, torna Dislexia
altamente hereditária, o que justifica que se repita nas mesmas famílias;
-que o disléxico tem mais desenvolvida área específica de seu
hemisfério cerebral lateral-direito do que leitores normais. Condição que,
segundo estudiosos, justificaria seus "dons" como expressão significativa desse
potencial, que está relacionado à sensibilidade, artes, atletismo, mecânica,
visualização em 3 dimensões, criatividade na solução de problemas e habilidades
intuitivas;
-que, embora existindo disléxicos ganhadores de medalha olímpica
em esportes, a maioria deles apresenta imaturidade psicomotora ou conflito em
sua dominância e colaboração hemisférica cerebral direita-esquerda. Dentre
estes, há um grande exemplo brasileiro que, embora somente com sua autorização
pessoal poderíamos declinar o seu nome, ele que é uma de nossas mentes mais
brilhantes e criativas no campo da mídia, declarou: "Não sei por que, mas quem
me conhece também sabe que não tenho domínio motor que me dê a capacidade de,
por exemplo, apertar um simples parafuso";
que, com a conquista científica de uma avaliação mais clara da
dinâmica de comando cerebral em Dislexia, pesquisadores da equipe da Dra. Sally
Shaywitz, da Yale University, anunciaram, recentemente, uma significativa
descoberta neurofisiológica, que justifica ser a falta de consciência fonológica
do disléxico, a determinante mais forte da probabilidade de sua falência no
aprendizado da leitura;
-que o Dr. Breitmeyer descobriu que há dois mecanismos
inter-relacionados no ato de ler: o mecanismo de fixação visual e o mecanismo de
transição ocular que, mais tarde, foram estudados pelo Dr. William Lovegrove e
seus colaboradores, e demonstraram que crianças disléxicas e não-disléxicas não
apresentaram diferença na fixação visual ao ler; mas que os disléxicos, porém,
encontraram dificuldades significativas em seu mecanismo de transição no correr
dos olhos, em seu ato de mudança de foco de uma sílaba à seguinte, fazendo com
que a palavra passasse a ser percebida, visualmente, como se estivesse borrada,
com traçado carregado e sobreposto. Sensação que dificultava a discriminação
visual das letras que formavam a palavra escrita. Como bem figura uma educadora
e especialista alemã, "... É como se as palavras dançassem e pulassem diante dos
olhos do disléxico".
A dificuldade de conhecimento e de definição do que é Dislexia,
faz com que se tenha criado um mundo tão diversificado de informações, que
confunde e desinforma. Além do que a mídia, no Brasil, as poucas vezes em que
aborda esse grave problema, somente o faz de maneira parcial, quando não de
forma inadequada e, mesmo, fora do contexto global das descobertas atuais da
Ciência.
Dislexia é causa ainda ignorada de evasão escolar em nosso país,
e uma das causas do chamado "analfabetismo funcional" que, por permanecer
envolta no desconhecimento, na desinformação ou na informação imprecisa, não é
considerada como desencadeante de insucessos no aprendizado.
Hoje, os mais abrangentes e sérios estudos a respeito desse
assunto, registram 20% da população americana como disléxica, com a observação
adicional: "existem muitos disléxicos não diagnosticados em nosso país". Para
sublinhar, de cada 10 alunos em sala de aula, dois são disléxicos, com algum
grau significativo de dificuldades. Graus leves, embora importantes, não
costumam sequer ser considerados.
Também para realçar a grande importância da posição do disléxico
em sala de aula cabe, além de considerar o seríssimo problema da violência
infanto-juvenil, citar o lamentável fenômeno do suicídio de crianças que, nos
USA, traz o gravíssimo registro de que 40 (quarenta) crianças se suicidam todos
os dias, naquele país. E que dificuldades na escola e decepção que eles não
gostariam de dar a seus pais estão citadas entre as causas determinantes dessa
tragédia.
Ainda é de extrema relevância considerar estudos americanos, que
provam ser de 70% a 80% o número de jovens delinqüentes nos USA, que apresentam
algum tipo de dificuldades de aprendizado. E que também é comum que crimes
violentos sejam praticados por pessoas que têm dificuldades para ler. E quando,
na prisão, eles aprendem a ler, seu nível de agressividade diminui
consideravelmente.
O Dr. Norman Geschwind, M.D., professor de Neurologia da Harvard
Medical School; professor de Psicologia do MIT - Massachussets Institute of
Tecnology; diretor da Unidade de Neurologia do Beth Israel Hospital, em Boston,
MA, pesquisador lúcido e perseverante que assumiu a direção da pesquisa
neurológica em Dislexia, após a morte do pesquisador pioneiro, o Dr. Samuel
Orton, afirma que a falta de consenso no entendimento do que é Dislexia, começou
a partir da decodificação do termo criado para nomear essas específicas
dificuldades de aprendizado; que foi elegido o significado latino dys, como
dificuldade; e lexia, como palavra. Mas que é na decodificação do sentido da
derivação grega de Dislexia, que está a significação intrínsica do termo:
dys, significando imperfeito como disfunção, isto é, uma função
anormal ou prejudicada; e lexia que, do grego, dá significação mais ampla
ao termo palavra, isto é, como Linguagem em seu sentido
abrangente.
Por toda complexidade do que, realmente, é Dislexia; por muita
contradição derivada de diferentes focos e ângulos pessoais e profissionais de
visão; porque os caminhos de descobertas científicas que trazem respostas sobre
essas específicas dificuldades de aprendizado têm sido longos e extremamente
laboriosos, necessitando, sempre, de consenso, é imprescindível um olhar humano,
lógico e lúcido para o entendimento maior do que é Dislexia.
Dislexia é uma específica dificuldade de aprendizado da
Linguagem: em Leitura, Soletração, Escrita, em Linguagem Expressiva ou
Receptiva, em Razão e Cálculo Matemáticos, como na Linguagem Corporal e Social.
Não tem como causa falta de interesse, de motivação, de esforço ou de vontade,
como nada tem a ver com acuidade visual ou auditiva como causa primária.
Dificuldades no aprendizado da leitura, em diferentes graus, é característica
evidenciada em cerca de 80% dos disléxicos.
Dislexia, antes de qualquer definição, é um jeito de ser e de
aprender; reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta e até
genial, mas que aprende de maneira diferente...
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