domingo, 24 de fevereiro de 2013

Martinismo



Martinismo é uma escola de pensamento místico-filosófica, derivada dos ensinamentos e escritos de Martinez de Pasqually e de Louis Claude de Saint-Martin, relacionada com o cristianismo esotérico e a mística judaica. É também a designação de um rito da maçonaria.


A escola de Martinez, restringiu-se à Teurgia, à prática operativa, enquanto que a escola de Louis Claude de Saint-Martin estendeu-se à chamada senda mística ou cardíaca.
Papus foi o fundador do martinismo moderno. Iniciado em 1882 por Henri Delaage na Sociedade dos Filósofos Desconhecidos, ordem fundada no século XVIII por Louis Claude de Saint-Martin, fundou em 1931 a Ordre Martiniste Traditionnel, da qual derivam diversos grupos contemporâneos.
Conforme se afirmou anteriormente, Matinês de Pasqually entendia que a ascensão do homem só poderia operar-se pela Teurgia, ou seja, por um conjunto complexo de práticas ritualísticas, visando obter sua reintegração com a Divindade com intermediação Angélica. 

Saint-Martin desaprovava essas práticas. 
Achava-as perigosas e ultrapassadas. Acreditava que com o advento do Cristo o homem poderia ter acesso ao Reino Divino sem intermediários. 

                                                       
                                                        Evocar ao invés de invocar.


                                                 Dentro e não fora. Interior e não exterior
A ascese interior é o caminho, e, nesse sentido, é no coração do homem que tudo deve acontecer. 


Para os martinistas o Universo e o homem formam um todo, e como ensinava Saint-Martin: não podemos ler senão no próprio Deus, nem nos compreender senão em seu próprio esplendor. 
Se o homem não é mais capaz dessa harmonia é porque se tornou vazio de Deus. Ficou adormecido para a espiritualidade. Escolheu que assim sucedesse. Lutar pela reintegração é preciso. É sobre essa questão primordial que repousa todo o trabalho martinista: a REINTEGRAÇÃO  DO HOMEM
O poder original perdeu-se. Mas não se perdeu, certamente, o germe desse poder. 

Só dependem - e depende exclusivamente - do homem cultivá-lo, trabalhá-lo, e fazê-lo crescer e frutificar. 
Mas há aqueles que têm consciência dessa nostalgia. Há os que sentem um impulso interior de reencontrar a pureza original. 


São os Homens do Desejo. É o desejo de Deus. É a fome de Deus. É a saudade metafísica insatisfazível do reencontro interno e insubstituível com a DIVINDADE INTERIOR.
No âmbito do Rosacrucianismo isto corresponde à construção in corde do Mestre-Deus pessoal de cada Iniciado.

Assim, a senda martinista é a SENDA DA VONTADE, voltada para a reconstrução do TEMPLO INTERIOR


Para edificar e reconstruir esse Templo, o iniciado Martinista apoia-se em três pilares: a Iniciação, os Ensinamentos Martinistas e a Beleza. Pelos dois primeiros adquire (ou readquire) FORÇA e SABEDORIA. Alcançadas ou (re)alcançadas essas instâncias do ser, nascerá (ou renascerá) a BELEZA que marcará com seu selo a reconstrução de seu Templo Interior. Portanto, a edificação do Templo Interior apoia-se na Lei do Triângulo.

       


Sobre a questão da iniciação, vale a pena recordar o que ensinou Saint-Martin a Kirchberger: Pela iniciação podemos entrar no CORAÇÃO DE DEUS e fazer o CORAÇÃO DE DEUS entrar em nós, para aí fazer um casamento indissolúvel. Pela Iniciação o homem lentamente tornar-se-á seu próprio REI. EU E MEU PAI SOMOS UM.

  Os ensinamentos de Saint-Martin são, sem exceção, aplicáveis a toda a Humanidade. Considerava a fraternidade (e não a igualdade) a base de toda a vida social e propugnava a união de todos os seres humanos em nome do amor. Justiça e caridade, força e fraqueza, só podem encontrar seu ponto de equilíbrio pela e na fraternidade. 



Assim, a Tradicional Ordem Martinista - que preserva os ensinamentos de Louis-Claude de Saint-Martin - propugna que a felicidade da Humanidade é dependente e proporcional à felicidade de cada um de seus membros e na união de todos pela fraternidade, que propicia uma verdadeira igualdade pelo equilíbrio estável de direitos e de deveres. A resultante desses dois lados do triângulo conduz ao terceiro - a liberdade - que determina a segurança e a preservação de todos. Mas, nada pode acontecer sem HUMILDADE e CARIDADE.




Em seu trabalho os martinistas não empregam nem magia, nem teurgia, nem se preocupam com a acumulação de um saber puramente intelectual, pois entendem que para progredir na senda da reintegração não é a cabeça que é preciso empenhar e sim o coração. É no coração - o templo sagrado e alquímico de transmutação do homem antigo no homem perpétuo - que serão encontradas as sete fontes sacramentais, as sete colunas, que harmonizarão e fertilizarão todas as regiões do ser do homem. Dessa Alquimia Transcendental e perene, manifestar-se-ão, para sempre, a Sabedoria, a Força e a Magnificência...

 
Segundo Saint-Martin na obra O Novo Homem, essas possibilidades estão à disposição do ser humano, porque nunca dele lhe foram subtraídas, e tais maravilhas encontram-se perpetuamente no seu coração, eis que aí têm existido desde a origem.


       No discipulado, o martinista utiliza dois livros simbólicos (díade martinista): o Livro da Natureza - imenso repositório de conhecimentos - e o Livro do Homem - a ser lido por introspecção, pelo retorno ao centro do ser, pelo retorno ao coração. Aí é o lugar para e de contemplação interior, de transmutação divina, e que se constitui na via Esotérica, Alquímica e Secreta de todos os seres. Nesse processo, o Homem Velho acaba por ceder lugar ao Homem Novo. 


Essa regeneração foi definida por Saint-Martin como uma imitação interior do Cristo; e, tendo se tornado Homem-Espírito, poderá cumprir seu ministério: ser o intermediário ativo entre o Absoluto e o Universo. Este é o significado oculto da sentença: Lázaro levanta-te. Todo Martinista é potencialmente um Lázaro. 

Não haverá mais em cima ou embaixo, exterior ou interior, dentro ou fora. 
A comunicação será permanente, e o homem terá alquimicamente se transmutado no templo de Deus. A Jerusalém Celestial terá sido restabelecida, pois o homem foi, então, batizado pelo Fogo Sagrado do Santo Espírito. I-NRI. I-Na-Ra. I-Na-Ra-Ya. YN-RI. 

A Doutrina Martinista veio (re)anunciar, portanto, a Era do Cristo Cósmico, que já começa a se revelar na alma de todos os seres, que, ainda que vacilantemente, estão iniciando a perceber que a insistência em chafurdar em valores transitórios e subalternos, só pode conduzir a sofrimentos e a desastres, qualquer que seja a duração dessas transigências, qualquer que seja a dimensão de cada tentativa. Ambas serão sempre frustras. Não se pode esquecer de que, posteriormente, Rudolf Steiner (1861-1925) viria a exaltar os mesmos princípios no âmbito da Sociedade Antroposófica. 
Este místico austríaco deixou uma obra monumental que deve, s.m.j., ser examinada por todos aqueles que se interessam pelos temas abordados neste pequeno e modesto ensaio. 
Outro pensador de nomeada foi o jesuíta Teilhard de Chardin (1881-1955), que faleceu no mesmo ano de Albert Einstein (1879-1955). Ambos foram cientistas, filósofos e místicos. Examinar os pensamentos destes dois ilustres transmissores é profundamente inspirador.

 E assim, se se puder simplificar ao limite máximo para a mínima compreensão do que possa ser esoterismo ou iniciação no sentido martinista, talvez um resumo do que deixou escrito Saint-Martin, possa desarmar as consciências, de um modo geral, e estimular o início de uma pesquisa e de um estudo mais sistemático e mais aprofundado sobre essa possibilidade de acesso a um conhecimento, que está a todos disponível, aberto e sem reservas: A única Iniciação... é aquela pela qual podemos penetrar o coração de Deus e induzir este coração divino a penetrar o nosso. Kirchberger, como se viu, teve o privilégio de receber esse inspirador pensamento do próprio Formulador. 



A vereda martinista é, portanto, CARDÍACA. Interna. Não-teúrgica. Cabalística e ao mesmo tempo Iniciática. 


Assim, contrariamente à tagarelice profana e vulgar, iniciação (no sentido esotérico) é experiência pessoal, aprendizado, compromisso com o bem, com a justiça, com a fraternidade e com a liberdade; é o propósito de servir e atuar neste Plano de existência com firmeza e tolerância, mas também com bondade e compreensão, respeitando a multiplicidade de credos e de opiniões, sempre colaborando para a ascensão social e espiritual da Humanidade. 


É, em suma, a prática plena pela compreensão plena do PRIMEIRO MANDAMENTO. Por último, sobre a Verdade, Saint-Martin deixou escrito: A opressiva desventura do homem não é ignorar a existência da verdade, mas interpretar erroneamente sua natureza. Este conceito é equivalente à anarquia pitagórica.


 PAZ PROFUNDA

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