segunda-feira, 5 de maio de 2014

Humildade vs. Arrogância


Humildade vs. Arrogância



Uma das críticas mais comuns que se lê em locais de conhecimento, como este, é que as pessoas deveriam ser mais humildes e menos arrogantes.
Para quem privilegia a ignorância, então o conhecimento é visto como sendo arrogante, sendo que o não ter esse conhecimento é que é ter humildade.

Comecemos pela humildade:

Uma das características da humildade é a pessoa não se achar superior aos outros. Deste modo, não deverá aplicar o seu próprio sistema de valores de modo a julgar os outros.
No entanto, aqueles que mais falam de humildade, o que fazem? Assumem-se como humildes, o que demonstra não terem essa humildade. Pior do que isso, ainda dizem que outros não são humildes, mostrando que estão arrogantemente a aplicar os seus valores para julgar o comportamento de outros.
Ou seja, quem é humilde não o diz nem julga os outros dizendo que eles não o são. Quem mais julga os outros, acusando outros de falta de humildade, é quem menos o é.

Esta falsa humildade vê-se ainda noutros exemplos.
Quando alguém utiliza a sua ignorância nos assuntos para transmitir informação para outros, sabendo que não tem conhecimento do assunto, então a pessoa não está a ser humilde.
Eu nada percebo de agricultura. Se eu criasse um website dizendo que as batatas nascem em árvores, e era um mistério como depois estas apareciam no solo, então estaria a divulgar ignorância. Obviamente, não estaria a ser humilde, se penso que tenho o direito de enganar os outros com a minha ignorância.
Pessoas que chamam a atenção para si próprias, porque se acham tão interessantes (e falam constantemente da sua vida própria quer no Facebook ou no Twitter), ou porque acham que as suas opiniões são tão interessantes que as têm que discutir em locais onde o conhecimento está acima das opiniões, obviamente não estão a ser humildes.
Chega-se ao cúmulo de em política, na televisão, em programas estilo Big Brother, etc., as pessoas se auto intitularem humildes.
Esta falsa humildade promove uma cultura de hipocrisia que deteriora a mentalidade social.

Mas vejamos algumas ações:
Será que admitir quando se faz algo errado e corrigir as coisas, será sinal de humildade?
Será que colocar os seus desejos e crenças pessoais de lado, em face dos dados objetivos do Universo, é sinal de humildade?
Será que objetivamente afirmar que sabe quando sabe, e afirmar que não sabe quando não sabe, será humildade?
Será humildade ser-se real ao ponto de não se fazer nem mais nem menos do que aquilo que é?
Será que deixar que os especialistas falem dos assuntos que constituem a sua especialidade, percebendo que uma só pessoa não pode saber de tudo, é sinal de humildade?
Se todas as respostas foram sim, então os locais de conhecimento são locais onde a humildade se aplica.

E quanto à arrogância?

Falarmos o que sabemos (assim como admitir quando não sabemos), é objetividade, nunca arrogância.
Colocar as leis do Universo acima das nossas crenças é humildade, nunca arrogância.

No entanto, que dizer daqueles que assumem que o Universo se tem que adaptar aos seus desejos e crenças? Esses são arrogantes ao ponto de se acharem superiores ao Universo.
Que dizer daqueles que afirmam algo sobre assuntos que desconhecem? Esses têm a arrogância e a presunção de dar opiniões baseadas na ignorância.
Que dizer daqueles que pensam que a sua ignorância está ao mesmo nível e vale tanto como o conhecimento dos assuntos? Isso é pura arrogância de se achar superior aos anos de estudo que os outros têm.
Que dizer daqueles que só por lerem alguns sites pseudo ou alguns livros de divulgação, pensam que sabem mais que os especialistas nos assuntos? Isso é certamente arrogância.
Que dizer daqueles que põem as suas experiências pessoais acima das evidências sobre os assuntos? Mais uma vez, isso é pura arrogância pessoal.

Arrogante não é quem tem conhecimento. Arrogante não é quem sabe que 2+2=4. Arrogante é quem, não sendo especialista no assunto, pensa que sabe mais que os especialistas.
Arrogante e prepotente é quem entra em locais científicos, cheio de certezas nas suas concepções, e com arrogância afirma X e Y, que se prova ser completamente falso.
Alguém acha correto entrar-se por um hospital dentro, a afirmar que o sangue é verde e que os médicos não sabem o que dizem? Claro que não. É uma atitude que denota ignorância, intolerância para com os factos, prepotência, arrogância, e incapacidade de aprender.
Se numa aula de física, um aluno afirmar que ele é que sabe, que a gravidade não existe, e as pessoas podem voar livremente pelos céus, o que se pode dizer desse aluno? É ignorante e arrogante.

Se eu, que nada entendo de agricultura, for até a um campo onde estão plantadas umas couves quaisquer, e eu virar-me para o agricultor e dizer-lhe que as couves apareceram devido a energias místicas ou a ter-se posto no solo um corno de touro, o que diria isso de mim? Que seria ignorante, certamente. O agricultor ria-se, porque eu estava a dizer disparates. E fazia algum sentido eu a seguir chamar o agricultor de arrogante só porque ele até sabe plantar couves e eu não?
Se eu quisesse aprender, então o que eu deveria ter feito era perguntar ao agricultor como ele plantou as couves. Se eu não quero aprender, mas somente fazer figuras tristes, então a minha estratégia é assumir que sei mais que os especialistas, apesar de só dizer disparates.

Tal como no caso da humildade, o apontar da arrogância é muito interessante neste aspecto: aqueles que são mais arrogantes são os que acusam os outros de arrogância.

Como se aplica isto na ciência?

Os cientistas são quem estuda a natureza. A ciência é somente o estudo da natureza. Para se estudar convenientemente a natureza utiliza-se uma série de estratagemas experimentais (a que se convencionou chamar método científico) de modo a minimizar a intervenção do investigador. Ou seja, de modo a que possa ser o mais possível a natureza dar-nos a resposta, e não os resultados apresentarem distorções fruto das crenças ou desejos pessoais do investigador.
Esta é uma posição bastante humilde: os cientistas sabem que não importam no grande esquema do Universo, por isso deve ser esse mesmo Universo a dar-nos as respostas.

Na pseudociência passa-se exatamente o contrário. As crenças pessoais estão acima das evidências que nos são dadas pela natureza através dos resultados científicos (em estudos duplamente cegos). É uma posição arrogante, de quem se acha superior ao Universo, como se a crença pessoal mudasse a realidade que nos é dada pelo Universo.

Por outro lado, em face de novas evidências, os cientistas estão sempre dispostos a mudar os seus pontos de vista e formas de pensar. Os cientistas têm a mente aberta o suficiente para reconhecer que podem estar enganados, e assim corrigirem-se (o próprio método científico é um método de correção contínua).
Já para os pseudos, nada os pode fazer mudar de opinião. Têm uma ideia concreta inserida inicialmente na sua mente fechada e não há qualquer evidência que os faça mudar de opinião, como
afirmou o criacionista Ken Ham recentemente.

Tendo isto em conta, será difícil perceber qual a posição humilde e de mente aberta e qual a posição arrogante e de mente fechada?

 

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