Clássicos no contemporâneo
O primeiro aspecto a tratar é sobre a
importância da cultura para a educação.
Definir cultura não é simples, existem
diversas abordagens: antropológica, sociológica, entre outras.
Vou destacar uma definição do professor
Alfredo Bosi que como professor de línguas e literatura, considera plausível a
definição etimológica.
Cultura é palavra latina, e o primeiro
significado na língua romana mais antiga remonta ao verbo cola que quer dizer
“eu cultivo o solo”.
“Inicialmente,
a palavra cultura, por ser um derivado de colo, significava, rigorosamente,
“aquilo que deve ser cultivado”. Era um modo verbal que tinha sempre alguma
relação com o futuro; tanto que a própria palavra tem essa terminação ura, que
é uma desinência de futuro, daquilo que vai acontecer da aventura. As palavras
terminadas em uro e ura são formas verbais que indicam projeto, indicam algo
que vai acontecer. Então cultura seria, basicamente, o campo que ia ser arado,
na perspectiva de quem vai trabalhar a terra.
Esse
significado material da palavra, relacionado com a sociedade agrária, durou
séculos; até que os romanos conquistaram a Grécia e foram em parte helenizados.
Nós sabemos a extrema importância da cultura grega, da arte e da filosofia
grega para o desenvolvimento da cultura romana. E os gregos tinham já uma
palavra para o desenvolvimento humano, que era Paideia.
“Paideia
significava o conjunto de conhecimentos que se devia transmitir às crianças,
paidós (criança é paidós) daí Pedagogia, que é a maneira de levar a
criança ao conhecimento.”
Trecho
da entrevista de Alfredo Bosi à Revista de Cultura e Extensão.
Nessa
perspectiva, a literatura que é uma das componentes da cultura, enquanto
expressão artística e manifestação da criação humana, dá forte contribuição
para a educação.
As crianças desde a pré-escola tem contato com
livros, chamados paradidáticos, e no
percurso escolar, é no ensino médio que a literatura ganha status de disciplina. É considerada no currículo e clássicos da
literatura passam a ser conteúdo escolar.
Tal como
em outras “disciplinas”, estudar os conteúdos dessa matéria torna-se uma
obrigação. Isso, pode se transformar em um problema na formação de leitores,
por que a literatura inserida no currículo pode ficar chata. A grande aventura
de embarcar na trama de um livro, soltar a imaginação e se deixar levar, ficam comprometidos.
O aluno
leitor tem compromissos com o desempenho nessa disciplina e assim, aquilo que
garante o prazer da leitura, fica soterrado por outros objetivos, que o aluno
tem de realizar. Esse “leitor” não se envolve com o livro, o foco dele está em
outro lugar. Ao mesmo tempo, os clássicos podem contribuir imensamente para
aguçar a curiosidade dos leitores alunos.
Os
clássicos foram escritos há várias décadas, quando não, centenas de anos.
Tratam de diversas situações e costumes, diferentes daqueles que vivemos hoje,
mas muitas ideias que veiculam, ainda são pertinentes aos mundo de agora,
frequentam as notícias que lemos, vemos e ouvimos, reconfiguradas de acordo com
as condições atuais.
Tratam
também daquilo que é próprio da condição humana, ligadas às formas de
organização social, aos sentimentos e emoções, dadas pela ancestralidade, como
a família, o amor e o casamento, por exemplo.
Shakespeare usou como trama
em Romeu e Julieta, a situação de um
casal de jovens, cujas famílias não
aceitam o amor que os unia e aí ele desenvolve essa história, que é um clássico
universal.
Se o
leitor ficar curioso em relação às questões que os clássicos tratam, isso pode
garantir boas pesquisas para o aluno. Por exemplo, lendo as Memórias de um Sargento de Milícias ou mesmo O Cortiço, podem se interessar pelo
início do processo de urbanização da cidade do Rio de Janeiro, quando se tornou
a sede do reino e tem em Dom João VI o responsável por esse processo.
Além de
todos esses ingredientes, de alguns anos para cá, temos novidades. As
tecnologias da informação e comunicação provocaram mudanças que atingem
diretamente os jovens, que tem nas telas dos novos aparelhos de comunicação, os
meios para se relacionar com os outros e com as informações. Leem e escrevem
muito nos computadores, tablets e principalmente, nos smartfones.
Entrando
nesse espaço e procurando levar a literatura para o que é próprio desse
universo dos jovens, adaptamos clássicos da literatura em games (www.livroegame.com.br).
Não são
apenas games, são ambientes onde o internauta pode acessar um bocado de
informações e curiosidades sobre os livros adaptados, uma versão eletrônica
desses livros, além dos games. É um espaço que informa, entretém e diverte, é
lúdico, afinal são jogos.
O intuito
é que o jovem internauta se interesse pela leitura, descubra o prazer de ler e
se divertir com os clássicos e tudo o mais de que falamos acima. Cabe ao
educador, aproveitar o “ciberespaço” para “provocar” o gosto pela leitura nos
seus alunos, sabendo que o ciberespaço é um território deles, os estrangeiros
lá somos nós, adultos.
Trocas,
são mais que bem vindas: a inserção no universo das letras para eles, pela
inserção na cultura digital para nós. Falamos de culturas, de gerações, de
linguagens, de visões de mundo e pontos de vista diferentes. Por isso, ambos
devem se dispor ao que for necessário para que a troca aconteça, é o exercício da
colaboração.
Boa sorte
e que todos vençam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário