Com o fim de um relacionamento, sempre
nos sentimos perdendo praticamente tudo, a esperança, o amor, os sonhos, as
idealizações; parece até que perdemos a vida, pois nada mais faz sentido. Perguntamos-nos
para que viver, se quem acreditou que fosse viver para sempre ao nosso lado, se
foi? Perguntamos-nos em que ponto nos perdeu do outro, para que a separação
tenha se tornado uma realidade da qual temos muita dificuldade em suportar.
Cada um com certeza terá suas próprias respostas, as quais dificilmente
coincidem umas com as do outro. Quem tem razão? Os dois? Quem sabe... Mas
geralmente nos perdemos do outro no exato momento que nos perdemos de nós
mesmos.
Só quem viveu ou vive uma separação
sabe a dor que ela provoca. São tantos os questionamentos, são tantas perguntas
sem respostas... Podemos responder todas as perguntas que gostaríamos de ter
feito ao outro, mas só teremos hipóteses e raramente responderemos
corretamente. Nem as nossas próprias perguntas conseguiram responder, quem dirá
responder pelo outro...
O tempo! Ah, dizem que o tempo pode
curar feridas, responder perguntas. Mas como conseguir esperar que ele passe?
Os minutos, que antes voavam, parecem ter se transformado em horas; as horas,
em dias... Tamanho é o sofrimento. Quando estamos bem e alegres, as horas voam
e sequer percebemos. Mas, quando estamos sofrendo... Tudo parece se
potencializar e se intensificar.
Mas por que nos perdemos quando
perdemos alguém? Por que usamos o termo perder? Será que nada ganhamos? Claro
que, assim que acontece, nem em pensamento conseguimos perceber algum ganho.
Mas se uma relação termina é porque algo não ia bem, ao menos para um dos
envolvidos, ou para os dois, mas nem sempre os dois sentem da mesma maneira,
cada um tem uma leitura diferente do que acontece. Por que temos que nos
dilacerar com nossas dores, permitindo que atinja nossa própria alma? Onde
estão os recursos que podem nos fazer e, principalmente sentir, tudo menos
intenso?
Os recursos, as respostas,
praticamente tudo está sempre dentro de nós, mas às vezes, as próprias lágrimas
nos impedem de enxergar, as palavras que ainda soam em nossa mente não nos
permitem ouvir nossa própria voz e assim continuamos a nos distanciar de quem
já nos tornamos desconhecidos: nós mesmos! É nesse momento que o abandono dói
muito mais, não só pelo fato de alguém ter ido embora, mas porque já nos
abandonamos há muito mais tempo. Talvez não seja momento de ficar fazendo
perguntas das quais não teremos respostas, porque quem as poderia dar já está
longe, mas voltar à atenção para nossa própria vida e nossa forma de conduzi-la
e também a maneira que conduzimos nossos relacionamentos.
Será que cuidamos do relacionamento
que não existe mais como realmente acreditamos que deveria ser cuidado? Demos
ouvidos aos nossos próprios pedidos ou ficamos sempre esperando e idealizando
que o outro viesse para satisfazer nossas necessidades, muitas vezes
inconscientes para nós mesmos? E se ele não conseguia nos satisfazer, por qual
motivo continuamos tanto tempo ao seu lado? Esperando que mudasse? Que
acordasse diferente e que fosse, como um dia ele próprio nos fez acreditar que
seria? Mas será que não ignoramos as infinitas atitudes que não eram coerentes
com as palavras?
Podemos viver esse momento de dor,
sofrendo, chorando, nos escondendo dentro de um quarto escuro, ou podemos
transformá-lo num momento de crescimento próprio, elevando nossa
espiritualidade, aprendendo com os próprios erros. E quantos não cometemos?
Não, nada de culpas, pois elas não
geram crescimento algum, só nos fazem ficar no papel de vítima e na busca por
culpados. Devemos nos responsabilizar também por esse término, ainda que seja o
outro que tenha tido a atitude de ir embora, nós participamos dessa decisão, por
mais que isso possa nos machucar ainda mais. Confrontar a realidade nem sempre
é o mais fácil, por isso tendemos a fugir; algumas vezes negamos os nossos mais
sagrados sentimentos com o intuito de quem sabe, sofrermos menos. Mas isso se
torna em vão quando não olhamos para dentro de nós, pois por mais que possamos
fugir por alguns dias, horas, algumas pessoas por anos, não poderemos fugir
para sempre do que está dentro de nós.
E afinal, o que sobrou além da dor?
Algumas pessoas podem responder que nada sobrou, mas será? Como era sua vida
antes desse relacionamento existir ou essa pessoa entrar em sua vida? Pior, ou
melhor, do que é hoje? Tudo sempre tem um sentido para existir e também um
sentido por ter acabado. Qual é o aprendizado disso tudo? Deve existir algum,
ainda que não consiga perceber qual seja. Se alguém se afastou de você talvez
seja porque você também não correspondeu ao que o outro esperava, como ele
também não ao que você esperava, por mais que nesse momento negue isso. E será
que continuar a viver assim iria fazê-lo feliz? É possível um estar feliz sem
que o outro esteja? Amor não é troca? Havia troca na relação ou uma das partes
se dava mais que a outra? Tantas coisas para pensar...
Pare, pense, reflita, analise, chore
se tiver vontade, volte, se sentir que ainda há amor; mas não se afaste de sua
essência, ainda que isso lhe custe ficar só, ou melhor, não estará só se ficar
consigo mesmo, e isso só depende de você! Por isso, por mais que esse momento
esteja doendo muito, não se abandone, mas use todo seu amor para curar sua dor!
Rosemeire Zago
Email:
r.zago@uol.com.br
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