segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Remorso

Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando

Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufocaram calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!


O remorso é a única dor da alma, que nem a reflexão nem o tempo atenuam.

Sempre agir por impulso, sem qualquer dúvida ou remorso. Sempre firme quanto ao que falar ou fazer. O comportamento sempre dependeu do humor, das vontades, e por mais que nem todas as escolhas tenham sido acertadas, isso justifica  deixar livre de qualquer arrependimento.

Entretanto, nesses últimos dias mal posso reconhecer a criança que aparece de relance no espelho. A criança que se evita encarar. Tanta coisa é preciso dizer, tanta coisa a fazer. Sentimentos suplicam para sair de dentro da alma. Tudo que precisa guardar e esquecer que algum dia se colocar para fora.

Escrever rascunhos todos os dias. Rabiscaros imaginários de cartas e nunca colocar no papel, esboços de e-mails e mensagens de celular que é preferível colocar na caixa de não enviadas a apertar o botãozinho verde que as encaminhariam ao seu destinatário.

Às vezes temos tanto a dizer, tanto a demonstrar, que nenhuma palavra parece ser mais eficaz do que o silêncio. Às vezes olhos marejados de lágrimas dizem mais do que páginas e mais páginas de texto.

O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.


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