Compreender o que nos impede de
alcançar um estado de paz interior é um passo fundamental para tirar do caminho
os obstáculos. Eles sempre são criados a partir de nossa mente.
Muitas pessoas se vêem de tal maneira
dominadas pelas emoções, que nem sequer conseguem perceber o mecanismo que a
mente utiliza para criar as limitações que -elas acreditam- existem em suas
vidas.
Ao invés de focar no exterior, o
movimento deve ser contrário, ou seja, voltar-se para seu próprio interior e
buscar ali as razões do sofrimento. Não é fácil perceber isto, e muitos chegam
até mesmo a odiar o terapeuta ou qualquer outra pessoa que tente lhes fazer
enxergar esta verdade.
É muito comum que nesta etapa do
processo muitos abandonem o tratamento, por considerar um absurdo que não
tenham suas queixas compreendidas, e seu sentimento de vitima legitimado.
Somente quando se consegue ultrapassar
este primeiro estágio, que constitui um verdadeiro choque, é possível começar a
adquirir alguma consciência a respeito dos truques que a mente cria para nos
manter sob seu domínio.
Aos poucos, vamos conseguindo perceber
nas mais diversas situações, os pensamentos recorrentes que dominam nossa mente
e nos mantém presos aos padrões de comportamento que insistimos em repetir.
Libertar-se da inconsciência só se
torna possível através da prática permanente da atenção. Ela é a chave mágica
que pode nos libertar da dualidade e levar-nos a um estado de consciência mais
elevado, onde o sentimento de unidade com tudo o que existe passa a prevalecer.
"A coisa mais difícil, quase
impossível, para a mente, é permanecer no meio, é permanecer equilibrada. E o
mais fácil é movimentar-se de um pensamento para o seu oposto. Movimentar-se de
uma polaridade para a polaridade oposta é a natureza da mente. Isso tem que ser
entendido muito profundamente, porque sem que você entenda isso, nada poderá
levar você à meditação.
....Quando você permanece no meio você
não está reunindo momento algum. E essa é a beleza disso: um homem que não está
reunindo momento algum para se mover a qualquer lugar, pode estar à vontade
consigo mesmo, pode sentir-se em casa.
....O tempo é criado pelo movimento da
mente, exatamente como o movimento do pêndulo. A mente move-se, você sente o
tempo.
Quando a mente não está se
movimentando, como você pode sentir o tempo? Quando não há qualquer movimento,
o tempo não pode ser sentido.
Cientistas e místicos concordam nesse
ponto: que o movimento cria o fenômeno do tempo. Se você não está se movendo,
se você está parado, o tempo desaparece, a eternidade chega à existência.
.....A segunda coisa a ser entendida a
respeito da mente é que a mente sempre quer o que está distante, nunca o que
está perto.
O que está perto é enfadonho, você
fica farto dele.
O distante lhe dá sonhos, esperanças,
possibilidades de prazer. Assim, a mente sempre está pensando no distante.
....Para a mente, o oposto é magnético
e a não ser que, através da compreensão, você transcenda isso, a mente
continuará movendo-se da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, e
o relógio continua.
Ele tem continuado por muitas vidas e
é assim que você tem sido enganado - porque você não compreende o mecanismo.
De novo o distante torna-se atraente e
de novo você começa uma nova caminhada.
....A mente é dialética, ela faz com
que você se mova repetidas vezes em direção aos opostos. E isso é um processo
infinito, ele nunca se acaba, a não ser que você, de repente, o abandone; a não
ser que, de repente, você se torne consciente do jogo; a não ser que, de
repente, você se torne alerta a respeito da trapaça da mente, e você pare no
meio.
Parar no meio é meditação.
A terceira coisa:
Porque a mente consiste em
polaridades, você nunca é um todo. A mente não pode ser um todo, ela é sempre
metade. ....A mente não é um mecanismo simples. Ela é muito complexa e através
da mente você nunca pode tornar-se simples, porque a mente segue criando
enganos.
Ser meditativo significa estar alerta
para o fato de que a mente está escondendo alguma coisa de si, de que você está
fechando os olhos para alguns fatos que estão perturbando.
Mais cedo ou mais tarde aqueles fatos
perturbadores virão à tona, vão apoderar-se de si, e você irá em direção ao
oposto. E o oposto não está longe, num lugar distante, em alguma estrela. O
oposto está escondido atrás de si, dentro de si, na sua mente, no próprio
funcionamento da mente.
Se você puder compreender isso, você
irá parar no meio.
....Quando você está equilibrado, a
mente não está lá - então, você é um todo. Quando você é um todo, você é
sagrado, mas a mente não está lá. Assim, meditação é um estado de não-mente.
Através da mente esse estado não é
alcançado. Através da mente, qualquer coisa que você fizer, ele nunca será
alcançado.
....Quando eu digo meditação, eu quero
dizer: ir além das polaridades opostas, deixar de lado todo o jogo, olhar para
o absurdo disso e transcendê-lo.
A própria compreensão se torna
transcendência.
.....Se você puder compreender isso, a
meditação acontecerá em si.
Na verdade, ela não é algo a ser
feito, ela é uma questão de compreensão. Ela não é um esforço, ela não é algo a
ser cultivado. Ela é algo a ser profundamente compreendido.
Compreensão dá liberdade. Conhecer
todo o mecanismo da mente é transformação.
...A felicidade somente pode acontecer
para o todo, nunca para a parte.... Você é um reino dividido, existe um
conflito constante dentro de si. Você diz alguma coisa mas aquilo nunca é o que
você quer dizer, porque o oposto está ali impedindo, criando uma barreira.
A mente entra quando você está
dividido. A mente alimenta-se com a divisão.
....O que é felicidade? Felicidade é a
sensação que surge em si quando o observador se torna o observado. Felicidade é
a sensação que surge em si quando você está em harmonia, não fragmentado, uma
unidade, não desintegrado, não dividido. Essa sensação não é algo que vem de
fora. Ela é a melodia que cresce em si a partir da sua harmonia interior.
....Muitas vezes, em meditação, você
tem alguns vislumbres. Lembre-se: sempre que você sentir tais vislumbres, não
diga: "quão belo é", não diga "quão amoroso é", porque é
assim que você perde o vislumbre. Sempre que o vislumbre vier, deixe que ele
esteja ali.
...Quando em meditação você tiver um
vislumbre de algum êxtase, deixe que ele aconteça, deixe-o ir fundo. Não divida
a si mesmo. Não faça qualquer declaração, senão o contato será perdido".
OSHO - do livro, The Empty Boat.
:: Elisabeth Cavalcante ::
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