"A imagem da criança representa a
mais poderosa e inelutável ânsia em cada ser humano, ou seja, a ânsia de
realizar a si próprio".
Jung
Geralmente, lembramos-nos de todas as
crianças que estão à nossa volta: filhos, primos, netos, sobrinhos, vizinhos,
filhos de amigos, mas, provavelmente nos esquecemos da principal: nossa criança
interior. É isso mesmo, existe dentro de cada um de nós uma criança de 3, 4 ou
7 anos precisando muito de nós.
Embora isso possa parecer estranho, é
muito importante esse reencontro para nosso crescimento emocional, pois através
do contato com nossa criança podemos curar muitas de nossas feridas e
compreender muitos de nossos conflitos.
A criança interior representa a nossa
totalidade psíquica, a parte genuína que vamos perdendo quando adultos. Ela
está presente em nossos sonhos, fantasias, desejos, imaginações, intuições, em
nossa capacidade de brincar, imaginar, criar e principalmente, na
sensibilidade. Para cuidarmos dela é preciso reconhecer sua presença e perceber
suas necessidades.
Ao estabelecer contato com sua criança
interior, sem dúvida irá conseguir libertar muitas emoções que estão presas em
você desde a infância.
Em alguns momentos, esse encontro pode
ser muito doloroso, pois não é fácil recordar o que nos fez sofrer, mas ao
mesmo tempo é libertador lamentar com ela suas dores reprimidas, deixá-la
chorar livremente e principalmente descobrir que não é verdade o que nos
fizeram acreditar sobre quem somos. Mas é possível transformar toda a dor ao
reencontrar com essa criança que está dentro de você e que apenas espera por
seu amor.
Em nossa criança interior, tanto os
momentos bons como ruins estão gravados. O objetivo de reencontrar essa criança
é resgatar o que houve de bom e elaborar o que houve de ruim. Quando perdemos a
conexão com nossa criança, nos sentimos abandonados, sozinhos, mesmo quando
acompanhados, ou ainda, nos tornamos duros, inflexíveis, frios, agressivos.
A criança interior abandonada nos
torna adulto com medo de errar, sempre buscando aprovação, reconhecimento,
enfim, sempre buscando amor.
Quando choramos, é nossa criança
abandonada chorando.
O modo como foi tratado quando
crianças é o modo como nos trataremos pelo resto da vida e o modo como muitos
ainda tratam seus filhos.
Inconscientemente, transformamos nossa
vida numa eterna corrida, buscando desesperadamente encontrar o que julgamos
não termos recebidos, e tentando resgatar depois de adultos, ainda que muitas
vezes de forma destrutiva, aquilo que acreditamos não ter tido quando crianças.
Mas isso pode mudar ao reencontrar sua criança interior abandonada e perdida.
Todos aqueles que têm uma relação
negativa com a figura de pai e/ou mãe podem ter essa origem na infância, quando
registraram que não receberam atenção e afeto suficiente quando crianças.
Quando adultos, continuam sentindo-se indignos de amor, e por isso, punem-se,
mantendo relações destrutivas ou ainda, repetindo os padrões que ficaram
registrados.
Outras pessoas deixam-se influenciar
por toda a vida por frases como "criança não dá palpite" ou
"criança não sabe o que diz"; e mesmo depois de adultas, omitem suas
opiniões e continuam a achar que suas idéias não têm qualquer valor.
Outras ainda passam o tempo inteiro
pedindo desculpas por existirem, como se fossem incapazes de parar de ouvir
aquela frase ouvida na infância: "É tudo culpa sua".
Em geral, levamos dentro de nós uma
imagem da infância ideal, aquela em que o acolhimento e demonstrações de amor
foram perfeitos. Essa imagem muitas vezes poderá ser projetada nos outros e
lamentando por um ideal, idealizamos relacionamentos e aumentamos nossa solidão
e dor.
A criança só pode expressar seus
sentimentos quando existe alguém que os possa aceitar completamente, sem
críticas, julgamentos, comparações, entendendo-a e dando-lhe apoio. O que
raramente tivemos. Quando a criança não sente permissão para expressar
sentimentos, sejam estes quais forem ela aprende que seus sentimentos não importam
não se sentindo valorizada, amparada, amada.
A criança pensa que para satisfazer
suas necessidades não deve demonstrar que tem necessidades, reprimindo assim
seus sentimentos mais puros e com isso uma parte de seu verdadeiro eu.
Para curar nossas emoções reprimidas,
temos de sair do esconderijo, enfrentar as defesas, as máscaras e confiar em
alguém. Sua criança ferida precisa também de um aliado que não a envergonhe e
que apoie para testemunhar o abandono, a negligência, o abuso e a confusão.
Para curar suas feridas é necessário que reconheça sua dor. Você não pode curar
o que não pode sentir!
Quando você experimenta o antigo
sentimento e fica ao lado da sua criança interior, o trabalho de cura ocorre
naturalmente. Se quiser, poderá escrever. Escreva como se fosse essa criança. O
que ela pediria? O que diria? Escreva tudo que vier em sua mente, sem
julgamentos. Depois leia o que ela pede e procure atendê-la. Lembre-se que as
carências que sente hoje podem ser resultado da falta de amor e compreensão que
não recebeu quando era criança. Cabe a você dar isso a ela hoje, dando-lhe
muito carinho e compreensão que necessita, em lugar de esperar que os outros
façam isso por você.
Quando criança talvez não pudesse
modificar ou entender a realidade, mas agora, adultos, podemos e devemos nos
tornar responsáveis por essa criança, como se fôssemos nosso próprio pai e mãe.
Como tem se tratado? Com compreensão,
amor? Quando vai ouvir a você mesmo? É esperado que você tivesse autoconfiança
suficiente para ser o aliado da sua criança interior no trabalho com a dor.
Você pode não confiar absolutamente em ninguém, mas você pode confiar em si
mesmo. De todas as pessoas que você conhece na vida, você é a única a quem
nunca vai abandonar e a única que nunca vai perder.
Entre em contato com sua criança.
Converse sempre com sua criança e procure agradá-la. Lembre-se do que gostava
de comer na infância ou o que gostaria de comer hoje caso fosse criança.
Vá comprar e delicie-se. Do que você
gostava de brincar? Lembre-se de algumas brincadeiras e não se acanhe, vá brincar!
Que tal se deixar rolar na grama? Melhor ainda se for junto com aquela pessoa
especial que você ama. Ou ainda, fazer aquela pipa e sair para empinar.
Relembre, invente!
O importante é você se permitir ficar
mais relaxado e muito mais alegre. Você logo irá perceber a diferença dentro de
você. O reencontro com a criança interior cura muitas doenças, feridas
emocionais, diminui o estresse, pois te permite brincar, relaxar, enfim, te
traz de volta à vida!
É importante lembrar que a necessidade
desse encontro com a criança interior faz parte de a jornada de todo ser humano
que está em busca de crescimento.
Na realidade, o processo desse
reencontro é a busca de si mesmo, de seu self, de seu verdadeiro
"eu".
Para encontrar essa criança abandonada
o mais indicado é através do processo analítico, ou seja, da psicoterapia com
base no inconsciente, amparando essa criança e compreendendo seus sentimentos,
pois a cura só acontece quando lamentamos nossos sentimentos mais íntimos. Caso
tenha dificuldade em fazer esse processo sozinho, busque a indicação de um
profissional que trabalhe com essa abordagem.
Pense nas maneiras que poderá usar
para entrar em contato com sua criança interior. Faça uma lista com 10 maneiras
de se divertir. Que tal algumas atividades bem "infantis"? Você pode
ir a um parque de diversões, no circo, desenhar com lápis de cor, enfim,
escolha suas próprias brincadeiras.
Feita a lista, procure se envolver em
pelo menos algumas atividades toda semana. Espero que você descubra muitas
maneiras de se divertir! Sua criança agradece! E lembre-se do escreveu Jean
Paul Sartre:
"Não importa o que fizeram com
nós,
o que importa é aquilo que fazemos
com o que fizeram de nós".
Rosemeire Zago
Nenhum comentário:
Postar um comentário