Seu amigo acorda às 5 horas da manhã no maior
pique para correr no parque depois de ter dormido durante seis horas, enquanto
você se arrasta para fora da cama às 7 horas, depois de oito de repouso. Bom,
você não é preguiçoso, nem seu amigo um louco — talvez apenas um pouco. Dormir
é uma tarefa muito específica, cada um precisa de um tanto de horas na cama.
“Os chamados pequenos dormidores, cerca de 2% das pessoas, necessitam apenas de
cinco a seis horas por noite. Já os grandes dormidores, outros 2%, de dez a
onze. A maior parte da população está nesse intervalo”.
Para descobrir de que tipo você é, pergunte
ao seu corpo. “A fórmula prática é aproveitar as férias para deitar quando
tiver vontade e levantar quando não sentir mais sono, sem pressão de horário ou
compromissos. Assim, poderá perceber quantas horas de sono necessita.” O
difícil é, depois das férias, manter o ritmo ideal, já que há pressões por
todos os lados que levam ao sono de baixa qualidade.
Mas é natural que a quantidade de horas
necessárias de sono mude com o passar dos anos. Recém-nascidos dormem até 20
horas por dia. “Já os idosos costumam ter períodos mais fragmentados, entram
poucas vezes na fase de sono profundo, comprova-se exatamente isso”.
No estudo
feito com voluntários, adultos mais velhos dormiram cerca de 20 minutos menos dos
indivíduos de meia-idade, que, por sua vez, dormiram 23 minutos menos do que os
adultos mais jovens.
QUESTÃO DE QUALIDADE
A insônia e os pesadelos são os problemas de sono
mais comuns em mulheres.
Já os homens, reclamam do ronco.
O
problema não é a queda progressiva no tempo dormido que vem com a idade. Isso é
fisiológico. O que faz mal para o corpo são as horas em que nos mantemos
acordados de modo não natural. Há situações na vida que impedem a pessoa de
dormir bem por um período, como um filho recém-nascido ou um projeto importante
a finalizar no trabalho. Os efeitos negativos desaparecem depois de algumas
semanas de sono de qualidade. O corpo se recupera.
Mas
parece que as dificuldades entre os lençóis vão muito além dessas situações
esporádicas. Uma pesquisa realizada em 2008 por um grupo da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) confirmou isso. Depois de entrevistar mais de dois
mil pessoas, os especialistas constataram que 63% tinham alguma reclamação com
relação ao seu sono. Comprovando a tese já apresentada, o grau de prevalência
das reclamações aumentava de acordo com a idade, e era bastante semelhante em
todas as regiões do País. A insônia e os pesadelos se mostraram mais comuns em
mulheres: 40% delas reclamaram da primeira situação e 25% da segunda. A
dificuldade que aparece com mais frequência para os homens é o ronco, atingindo
35%.
Em
2007, o neurofisiologista Geraldo Rizzo coordenou outro amplo estudo em todo o
País com mais de 2 mil pessoas, também para identificar como dorme o
brasileiro.
Ele chegou a resultados bastante semelhantes aos da Unifesp.
Somando as respostas “sim” e “às vezes” quando a pergunta era se a pessoa tinha
dificuldade para dormir, ultrapassou-se a marca dos 70% na maioria das regiões
do Brasil. Quando a pergunta era “Acorda durante o sono?”, o “sim” e o “às
vezes” beiraram os 90%. As causas para ficar de mal com a cama são várias. A
principal foi “problemas financeiros”, com 48,2%, seguido por “problemas de
saúde”, com 39,5%.
Os
problemas financeiros são mais difíceis de serem tratados, mas os de saúde têm
solução.
“Entre estes distúrbios, o mais presente é a apneia, que é quando a
respiração interrompe-se várias vezes durante o sono, trazendo sérias
consequências a todo o organismo”.
A breve parada respiratória acontece porque
os músculos da garganta relaxam, bloqueando a entrada do ar. As interrupções na
respiração provocam também ligeiras despertares e a pessoa fica sonolento o dia
todo. Esse distúrbio pode ser tratado principalmente com uma mudança de hábitos
como emagrecer e parar de fumar. Quando isso não resolve, há soluções mais
invasivas, como o uso de um aparelho que mantém a garganta aberta enquanto se
dorme, reposicionando a mandíbula, ou até cirurgias.
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FAZ MAL DORMIR MAL
O
homem não é um ser noturno. Foi moldado biologicamente para sentir sono com o
cair da noite. Entretanto, manter hábitos noturnos tem preço e o corpo sofre
com a privação das horas com a cabeça no travesseiro.
Uma
recente pesquisa, publicada em fevereiro na conceituada revista Sleep, mostrou
o que a privação não impede a capacidade do cérebro de processar uma
informação, mas ela aparece distorcida depois de processada. Isso pode
interferir em uma tomada de decisão. Imagine a situação: uma pessoa com muito
sono está dirigindo em alta velocidade e vê um obstáculo alguns quilômetros à
sua frente. Ela processa essa informação, mas pode decidir não frear, não
desviar.
Essa
situação é bem parecida com o que acontece quando se está embriagado. Uma pessoa
que passa 20 horas seguidas acordadas apresenta o mesmo desempenho — no tempo
de reação — de alguém com um nível de 0,08% de álcool no sangue. E talvez seja
por isso que tantos acidentes graves aconteçam à noite. Está provado, também,
que certos tipos de memória só se fixam se a pessoa repousar. Atravessar a
noite toda estudando e ir para a prova na manhã seguinte é bem pouco eficiente.
O CORPO TODO SOFRE
“A falta de repouso adequado traz efeitos
como cansaço, sonolência durante o dia, irritabilidade, dor de cabeça e até
redução da libido”. “Há ainda outras consequências ao organismo que nem sempre
são notadas, como alterações da pressão arterial, da glicemia e da temperatura
corporal”, completa.
Além disso, dormir pouco também engorda. O
pouco sono interfere no mecanismo hormonal, fazendo que o organismo produza
mais hormônios que disparam a fome.
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