segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Luto!



   Com frequência, as pessoas perguntam quanto tempo dura o luto? 

Entenda que esta é uma pergunta diretamente relacionada à impaciência que nossa cultura tem com o pesar e o desejo de sair logo da experiência do luto. Um exemplo disso é a pressão que o enlutado sofre, logo após a perda, para voltar à atividade normal. Aqueles que permanecem expressando tristeza por um tempo prolongado são considerados fracos, loucos. 

A mensagem sutil é seja forte, não se deixe “abater”. Ou seja: o luto passa a ser visto como alguma coisa a ser evitada e não, que precisa ser vivida. E o enlutado passa a apresentar um comportamento socialmente aceitável, que, porém, contraria sua necessidade psicológica.

Mascarar ou fugir do luto causa ansiedade, confusão e depressão. Se a pessoa enlutada receber pouco ou nenhum reconhecimento social para sua dor, poderá temer que seus pensamentos e sentimentos sejam anormais, o que nem sempre ocorre. 




A partir da perda de uma pessoa amada, devemos ter como objetivo superar o luto, o mais cedo possível? 


O enlutado pode ouvir alguém lhe perguntar: Você já superou sua dor? Ou, o que é pior: ‘Já está na hora de você sair dessa’. 


Em termos clínicos, a dimensão final do pesar é com frequência entendida como resolução, recuperação, restabelecimento ou reorganização. Por que não pensar em reconciliação? Esta palavra pode ter um significado mais apropriado acerca do processo vivido. Não significa passar pelo luto, significa crescer por meio dele. Reconciliação é mais expressiva daquilo que ocorre à medida que o enlutado integra essa nova realidade de se mover ao longo da vida sem a presença física da pessoa que morreu. 



A reconciliação permitirá que o enlutado tenha um senso de confiança e energia renovado, uma habilidade para reconhecer totalmente a realidade da morte, e a capacidade de se tornar envolvido novamente. O mais importante: o enlutado poderá reconhecer que, embora difícil, a dor e o pesar são partes necessárias do viver. À medida que for ocorrendo a reconciliação, o enlutado poderá se dar conta que a vida será diferente sem a presença da pessoa que morreu. Mas para isso será necessário perceber que a reconciliação é um processo, não um evento. 
Além da compreensão intelectual, existe a compreensão emocional e espiritual. Ou seja: além de entender na mente, vai entender no coração: a pessoa amada morreu. A dor sentida vai deixar de ser onipresente e aguda, para se transformar em um sentimento de perda que pode ser reconhecido e dá vez a um significado e um propósito renovado. O sentimento de perda não desaparece completamente, ele é atenuado e as crises de pesar, antes intensas, tornam-se menos frequentes e mais suaves. À medida que o enlutado começa a fazer novos envolvimentos, emerge a esperança de continuar a viver. É possível perceber que, embora a pessoa que morreu jamais virá a ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida. Não se trata de “superar” o pesar. Quando o enlutado começa a mergulhar no trabalho do luto, ele irá se reconciliar com ele. 
A dor expressa em lágrimas é um sinal de fraqueza? 



Muitas vezes, as lágrimas devidas a uma perda são associadas à fraqueza e inadequação pessoal. O pior que o enlutado pode fazer é permitir que este julgamento o impeça de se expressar dessa maneira. Enquanto suas lágrimas podem ocasionar um sentimento de impotência nos amigos, família e cuidadores é preciso que ele cuide para não se deixar inibir por eles. É possível que a pessoa que está preocupada com o enlutado tente, mesmo que de maneira sutil, por desejo de protegê-lo, evitar que ele chore para protegê-lo e a si mesma, da dor da perda. Ouvem-se frases como: “As lágrimas não o trarão de volta ou Ele não gostaria de vê-lo chorar´” . No entanto, chorar é uma maneira natural de aliviar a tensão interna e permite que seja comunicada a necessidade de ser confortado.


Mesmo com dados ainda limitados, há evidências de pesquisa que apontam que a supressão das lágrimas aumenta a suscetibilidade a distúrbios relacionados ao stress.
 
                                   Por que cada perda é única?



O que há de muito especial nos seres humanos? Cada um é único, não há dois iguais e isso se reflete nos vínculos que estabelecemos, bem como nas condições da dor pela perda daqueles que amamos.

Há alguns fatores que contribuem para a compreensão dessa experiência incomparável que é o luto.

Fator 1) A natureza da relação com a pessoa que morreu
Fator 2) Circunstâncias da morte
Fator 3) Circunstâncias do sistema de apoio do enlutado
Fator 4) A personalidade - incomparável - do enlutado

Fator 5) A personalidade - incomparável - da pessoa que morreu
Fator 6) O contexto cultural do enlutado
Fator 7) O contexto religioso e espiritual do enlutadoFator 8) Outras crises ou situações de stress na vida do enlutado
Fator 9) Questões de gênero
Fator 10) A experiência com os rituais de luto








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